Futuro do transporte foi tema de debate no IT Talks Conference 2022.
novembro 16, 2022Na roda de conversa foram abordados temas como o ESG e o impacto das tendências na gestão.
A noite de quinta-feira (10) na Fenatran, a maior feira de transporte da América Latina, foi marcada pela realização do IT Talks Conference, um painel de discussão com os executivos do IT (Influenciadores do Transporte). Na roda de conversa foram abordados temas como o ESG e o impacto das tendências na gestão do transporte rodoviário de cargas e os próximos passos da tecnologia incorporados na logística.
DIVERSIDADE NAS EMPRESAS
Abrindo a conversa Ana Jarrouge, presidente executiva do SETCESP – Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São Paulo e Região, falou sobre a importância da diversidade nas empresas, um dos pilares do ESG, e como isso afeta em ter um ambiente mais atrativo para clientes e conquistar melhores resultados.
“Empresas não podem perder mão de obra diferenciada e é, através dessa diversidade de pessoas, que surgem soluções, novos pensamentos e inovações. É preciso estar atento para receber pessoas diversas, além de agregar valor ao seu negócio, também te torna atrativo para os clientes”, afirmou Jarrouge.
Quem também pontuou a importância de pensar no social, foi Joyce Bessa, head de gestão estratégica, finanças e pessoas na TransJordano. Segundo a executiva, ainda falta pluralidade no ecossistema do transporte rodoviário de cargas, como um todo.
“Não basta só as empresas estarem engajadas. Precisamos que os embarcadores estejam com a mesma linha de pensamento, para estarmos prontos no desenvolvimento do setor. Por exemplo, 25% das transportadoras, não tem infraestrutura para as mulheres. Para mudarmos isso, precisamos olhar internamente, entender o que precisamos mudar e depois levarmos essa questão para o cliente, assim negociar esses pontos, para atendermos a diversidade”, pontuou Bessa.
Essas ações, acabam refletindo na experiência do cliente, como explicou Rafaela Cozar, head de gestão e inovação na Roda Brasil Logística. “Precisamos ter mais diversidade e um olhar mais amplo, entender o que podemos fazer para mudar o futuro e ter uma inclusão maior em todas as áreas. Temos que olhar com mais carinho essa dinâmica, pois as empresas terão um retorno positivo em termos de benefícios para nós, nossos clientes e a sociedade, no geral.”
Completando a preocupação com as questões sociais, Luiz Nery, diretor comercial do grupo Rodonery, falou sobre a importância em focar esforços em quem fará parte do futuro do setor. “O jovem é o futuro e precisamos prepará-los. Eles vêm com uma cabeça mais diferenciada, com uma vontade maior de inovar e com a mente aberta. Então, nosso papel é apostar no jovem e capacitá-los. Hoje, a COMJOVEM faz esse papel muito bem, todos nós passamos por lá e sabemos disso.”
FOCO NO MEIO AMBIENTE
Outro pilar do ESG, o foco no meio ambiente e em soluções que diminuam o impacto ambiental, foi abordado por André de Simone, membro do Conselho Administrativo da Transita Transportes, que pontuou a diferença entre as edições de 2019 e 2022 da Fenatran, com a apresentação desse tipo de tecnologia nos caminhões.
“Na última edição nós não víamos tanto essa tecnologia sustentável por aqui e hoje todas as montadoras estão apresentando as suas. Caminhões que pensam no meio ambiente, elétricos, para poder atender as distribuições locais, além de veículos a gás, que também surgem como um diferencial”, pontuou.
Segundo Geovani Serafim, presidente da Serafim Transportes & Logística, mesmo sendo uma forma de governança discutida há anos, os pilares de pensamento em meio ambiente, social e corporativo, que formam o ESG, chegaram ao Transporte Rodoviário de Carga há pouco tempo e as empresas ainda estão se habituando a ele.
“O ESG é uma sigla tão pequena, mas de uma responsabilidade gigantesca. Embora seja mais falada de 2020 para cá, já é algo que conhecemos. Precisamos enxergá-la como investimento e não como custo, porque irá impactar no desenvolvimento dos nossos filhos e parentes. Há a necessidade de mudança de cultura das empresas, para aprimorar e dar mais ferramentas para o crescimento da empresa e dos funcionários”, afirmou.
José Alberto Panzan, presidente da Anacirema, trouxe para a discussão o fator pandemia e como ele fez o setor se reinventar e fazer uma autoavaliação para mudar e buscar novas soluções de atendimento.
“Aprendemos a ser mais eficientes, trabalhar de uma forma mais correta e responsável. Para nós empresários do transporte, foi um privilégio trabalhar e não deixar de entregar os insumos essenciais para a população. Já conseguimos implementar no Brasil, coisas que temos na Europa, por mais que a infraestrutura seja um fator que nos impede, precisamos ser a mudança para evoluir o TRC”, declarou Panzan.
Sobre gestão, Priscila Zanette, diretora da Ouro Negro Transportes, falou das contribuições das práticas de ESG nas empresas, afirmando que, “todas iniciativas que fazemos trazem um benefício significante para as transportadoras. Acredito que a diversidade nos ajuda na tomada de decisões assertivas, enquanto faz com que as empresas sejam, também, mais sustentáveis.”
Ainda sobre as questões relacionadas ao ESG e o que foi apresentado na Fenatran, Antonio Ruyz, CEO da TransRuyz, falou sobre como hoje já se pensa no TRC muito à frente do que apenas ao futuro próximo e como é preciso se adequar às novas realidades.
“Esses eventos são uma oportunidade para conhecermos a atualidade, o que está sendo projetado e o que esperamos do futuro. As montadoras aqui estão pensando não só em como será o transporte em 2030, mas também mais à frente, pensando em caminhões autônomos e como será a nossa infraestrutura. Quando falamos de combustão, energia limpa, nos assustamos um pouco, mas precisamos implementar o ESG nos fretes também. Entender um pouco sobre o que isso irá impactar de fato o setor e os passos para o futuro”, declarou Ruyz.
APLICAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS
Em um segundo momento de conversas, os executivos discutiram as mudanças tecnológicas e como elas estão afetando o setor.
Abrindo a discussão, Lucas Scapini, CEO do Grupo Scapini, falou sobre a necessidade das empresas de logística entenderem que elas precisam de tecnologia, para não sumirem.
“Em termos técnicos, hoje, temos as empresas de tecnologias que estão acompanhando esse processo e nós da logística temos a responsabilidade de estar atentos a tudo isso. Os embarcadores estão procurando empresas que estejam avançadas nesses processos. Se nós que somos de logística não nos especializarmos em tecnologia, as empresas de tecnologia vão tomar nosso lugar e vamos perder lá na frente”, afirmou.
Para Antonio Lodi, CEO da Transportadora Andrade, pontuou a necessidade de que as empresas filtrem internamente as novidades tecnológicas, para criarem estratégias de ação. “O ideal é pegarmos um pouco de cada novidade que nos apresentam aqui, levar para a nossa empresa e mostrar aos colaboradores. Deixá-los pesquisar sobre e conhecer o produto. Dessa forma você vai pesquisando, “peneirando” e vemos o que podemos implantar dentro da nossa organização.”
Felipe Medeiros, COO na GVM Solutions Brasil, corrobora do ponto de vista de Lodi e ainda pontua a necessidade de saber como escolher a tecnologia ideal para sua operação em sintonia com as dores de seus clientes.
“Dentro da enorme quantidade de informação que temos diariamente é preciso filtrar sabendo exatamente quais são as necessidades da sua empresa, do seu negócio e do negócio do seu cliente. Cada empresa tem sua particularidade e, no final das contas, tudo é voltado ao cliente”, explica Medeiros.
CUSTOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS
Apesar da empolgação com as novidades tecnológicas apresentadas na Fenatran, uma questão foi amplamente discutida no painel, o custo.
“Olhando para o futuro, vendo todos os caminhões com todas essas tecnologias, entendemos que esse futuro está aqui, mas em contraponto, ficamos assustados com os valores. A indústria automobilística já se posicionou a favor da sustentabilidade, mas as pessoas precisam tomar cuidado para não entrar em dívidas, investindo em tudo que está no mercado”, pontuou Danilo Guedes, presidente da ABC Cargas.
Para Eduardo Ghelere, diretor executivo da Ghelere Transportes, a chegada do Euro 6 ao Brasil fará necessária a renovação de frota, mas pontua que deve ser algo feito de forma ampla e que isso terá reflexos econômicos. “O Euro 6, assim como todas as tecnologias, são questões que não têm volta, pois são muito importantes. Não podemos pensar apenas na nossa renovação de frota, mas sim do país como um todo. Todo mundo vai ter que comprar, mas o valor não está adequado com os parâmetros do frete do Brasil. O mercado precisará se adequar para pagar o custo da implementação dessas novas tecnologias.”
Gislaine Zorzin, diretora administrativa da Zorzin Logística, também citou os valores, mas mostrou confiança na adequação do mercado às novidades. “Lógico que assusta um pouco os preços dos caminhões elétricos, mas acredito que irão se estabilizar e se adequar ao mercado, mas precisamos também readequar o preço dos fretes para acompanhar os valores.”
Pensando no cenário do transporte rodoviário de cargas atual e em projeção ao próximo ano, Marcos Teixeira, diretor da Costa Teixeira Logistics, fez uma análise das mudanças de paradigmas do setor nos últimos 10 anos. “Se há 10 anos, se falava muito sobre os veículos e capacidade de carga, hoje a tecnologia toma conta do que é apresentado aqui na Fenatran. Ela é o centro da sua operação e quem não usar a tecnologia a seu favor, vai ficar fora do mercado. Nosso desafio para o próximo ano é fazer essa integração de todas as tecnologias que estão em alta e que já vem sendo um diferencial, mas precisamos aprender a utilizá-las.”
Finalizando o debate, Thais Bandeira, diretora de negócios da Kodex Express, falou da necessidade de ações disruptivas para o crescimento da inovação no TRC. “A inovação já é presente no nosso setor e o futuro é analítico. Nós como gestores, precisamos ter maturidade para entender qual é o momento da nossa empresa. O que vamos levar para transformar e o que podemos implementar agora. É preciso entender o todo para identificar o que é melhor, pensando no agora e, também nas pequenas disrupturas, que podem se tornar diferenciais.”
Por: Ana Ferreira