Teste BMW iX xDrive50: Senhor dos exageros e extravagâncias.
agosto 17, 2022Fibra de carbono, cristais, madeira, couro e design futurista marcam o SUV elétrico.
Da primeira reunião até as ruas, o projeto de um automóvel leva anos. Quanto mais complexo, mais tempo ele exigirá de áreas como design, engenharia, escolha de materiais e tecnologias para o encaixar dentro da sua proposta de consumidor, preço e segmento. Depois do BMW iX, muitos concorrentes de veículos elétricos estão com os cabelos em pé.
Não pelo veículo em si, mas pelo que ele nos mostra. Com seus exageros e extravagâncias, esse SUV de quase 5 metros de comprimento é, na verdade, a vitrine do que a BMW trará para as ruas em seus próximos elétricos, além de elevar a régua de tudo o que seus concorrentes apresentarão no futuro. Na vida real, é como estar com o pé no carro elétrico quase do futuro.
Em outro mundo
Se você é uma pessoa discreta, nem pense em ter um BMW iX. Seus exatos 4.953 mm de comprimento já o destacaria nas ruas, mas seu design saiu direto do carro conceito Vision iNEXT para a vida real. Vidros grandes, portas quase lisas com maçanetas embutidas, dianteira que exibe os extremos de faróis finos, a grande “grade” regenerativa e a traseira com as lanternas disfarçadas na grande tampa em material plástico para reduzir peso. Rodas de 22″ se encaixam nas caixas para completar o pacote, assim como a grande área envidraçada.
Por baixo dessa carroceria, a BMW fez questão de também ser diferente. Fibra de carbono está exposta nas entradas de portas e reforçam a carroceria com menor peso. O aço utilizado, em parte reciclado, é coberto por placas que variam de alumínio a composto plástico. Acabamento e até mesmo a chave tem material reciclado, inclusive garrafas PET e redes de pesca retiradas do mar. Não bastava ser zero emissão, também é feito pensando no ambiente antes, durante e depois das ruas.
Sua plataforma foi desenvolvida para ser 100% elétrica, mas compartilha diversos componentes com a CLAR, como a suspensão com peças do X5, por exemplo, com molas pneumáticas em amortecedores adaptativos. O comprimento de 4.953 mm é bem próximo, inclusive, dos 4.938 mm do X5, mostrando em quem se inspirou, mas com um entre-eixos de 3 metros ante os 2.972 mm do SUV a combustão.
Nessa plataforma, encaixe um conjunto de baterias no assoalho com 111,5 kWh de capacidade total (sendo 105,2 kWh úteis) com recarga de até 150 kW, recarregando 70% em 35 minutos ou adicionando 150 km de autonomia em apenas 10 minutos em um recarregador com essa capacidade. Ela alimenta dois motores elétricos, sendo no eixo dianteiro, de 272 cv e 35,9 kgfm, e na traseira, 340 cv e 40,8 kgfm, este priorizado na condução. Combinados, 523 cv e 78 kgfm de torque distribuídos automaticamente entre os eixos conforme a necessidade, com vetorização de torque.
Nos mínimos detalhes
Se por fora o iX é futurista, por dentro é puro luxo. Impossível não entrar e começar a reparar em cada detalhe que a BMW fez questão de tomar cuidado. Os bancos em couro parecem ter saído de uma loja de sofás de luxo, com um cuidado no acabamento impressionante, além do conforto. Perfurados, os dianteiros guardam sistemas de massagem para o motorista, aquecimento e ventilação e parte do sistema de som assinado pela Bower & Wilkins, com uma qualidade digna das melhores salas de cinema do mundo. E isso não é exagero.
O restante do acabamento te apresenta botões em cristais, desde regulagem dos bancos, seletor do câmbio, botão de partida e seletor do sistema multimídia, estes sobre uma peça em madeira com botões sensíveis ao toque para diversas funções do carro, como o seletor de modo de condução ou elevação da suspensão a ar. Nas portas, a abertura é feita por um discreto botão que está bem perto da grade em alumínio que protege parte do sistema de som. Plástico rígido? Pouco, quase nenhum, escondido por couro e tecidos. Até a chave é feita com um plástico reciclado.
Apesar de ter 3 metros de entre-eixos, os engenheiros da BMW nem pensaram em fazer um SUV de 7 lugares. O iX puxa dos sedãs maiores da BMW a possibilidade de oferecer um banco traseiro digno aos ocupantes. Ajudado pela plataforma elétrica, o piso central plano se junta aos bancos traseiros bem recuados na coluna C para dar um espaço grande para as pernas, além de um conforto de revestimento e espumas como nos dianteiros. Se você não dormir em uma viagem, ganhará um prêmio. O ar-condicionado de 4 zonas garante que nenhum ocupante passará calor ou frio por causa de outro. No porta-malas, 500 litros de capacidade.
Mas nada adiantaria toda essa pompa e não se diferenciar dos demais elétricos na hora de andar. O painel de instrumentos digital em conjunto com a tela multimídia seriam simples enfeites se não tivessem um papel fundamental na experiência do motorista e seus ocupantes, confortavelmente acomodados em grandes bancos em couro. E sim, ele nos dá tudo isso.
Tapete (elétrico) voador
O BMW iX xDrive50 não é o mais potente dos carros elétricos disponíveis no Brasil, com seus 523 cv e 78 kgfm de torque. Mas o que chama a atenção é a sua suavidade, priorizando o motor traseiro. No modo Efficiency, o iX desenvolve bem na cidade e na estrada, mesmo carregado, além da suspensão acertada para o conforto dos ocupantes.
Se você está acostumado com o comportamento tradicional dos BMW, vai até estranhar um pouco o quão confortável ele é. As rodas de 22″ nem parecem que estão ali, de tão bem que a suspensão trabalha, mesmo em piores condições do piso. A grande área dos vidros dá a sensação de amplitude e, mesmo com quase 5 metros, seu eixo traseiro direcional ajuda na hora de manobrar em vagas apertadas ou em curvas mais fechadas em ruas estreitas.
Assim que chegou, levamos o iX xDrive50 para a pista de testes. Resultado: 0 a 100 km/h em 4,7 segundos, praticamente o mesmo que a BMW divulga. Isso vem no modo Sport, que também recalibra a suspensão para uma tocada digna de um SUV BMW, bem comportado e plantado no chão mesmo quando mais provocado. Sim, ele muda de comportamento com dois toques de botão e tela sensível ao toque e nem estamos falando de um carro assinado pela divisão M da BMW ainda. O eixo traseiro, o que ajuda nas curvas em baixas velocidades e manobras, também faz sua parte em curvas rápidas.
Em consumo, foram 5,1 km/kWh na estrada, o que nos daria 536 km de autonomia com a carga útil de uma das maiores baterias instaladas em um carro de produção, ou 4,8 km/kWh (505 km) na cidade, uma média que nos encorajou a fazer algo diferente com o BMW iX, e além de uma viagem até algum lugar distante.
Sem carregador, literalmente
Depois de registrados os números, coloquei o iX para recarga até os 100%. Um wallbox de shopping foi suficiente para isso, indo de 60 a 100% em pouco mais de 2 horas. A partir dali, a “missão” seria um final de semana sem carregador, incluindo um pouco de estrada e bastante percurso urbano que, pelas contas, não me deixaria nem perto de acabar com a bateria.
O painel mostrava uma autonomia de 589 km com os 100% de bateria. Em 24 km, do shopping até minha casa, reduziu para 521 km e 95% da carga, mas com ar-condicionado e bastante trânsito, digno de uma sexta-feira em São Paulo. Em todo momento, a regeneração estava no nível médio, configurada pela central multimídia.
Com destino a São José dos Campos (SP), o BMW iX foi carregado com 4 pessoas em velocidades entre 100 e 130 km/h, sempre com ar-condicionado ligado. O painel já me mostrava 135 km rodados, considerando um pouco de urbano na chegada ao interior, 77% de bateria e autonomia de 459 km. A média já estava melhor do que a BMW considerou quando fez a conta inicial logo depois da recarga, mas também recuperou uma boa energia na regeneração na rodovia. Deu também para ver o quão o piloto automático adaptativo colabora na regeneração, inteligente, assim como o GPS com realidade aumentada e um head-up display completo.
Uso urbano, trânsito, mais um pouco de rodovia. Na segunda-feira, o hodômetro marcava 311,9 km ao chegar em nossa redação, sendo com 42% de bateria e 238 km de autonomia. A partir disso, me despedi do iX e, mesmo assim, ele ainda conviveu dois dias por aqui sem olhar para um carregador até ser devolvido. Quer abastecer seu iX apenas uma vez na semana e rodar como um carro a gasolina? É possível.
No fim, tivemos todos a mesma impressão do BMW iX. Extremamente luxuoso, grande, em diversos pontos exagerado e extravagante, principalmente no acabamento, mas um veículo elétrico eficiente, confortável e moderno. É a vitrine de R$ 846.950 da BMW para mostrar o que ela pode fazer daqui pra frente em seus elétricos. Um pouco como foi o i3 há alguns anos, que até hoje se destaca nas ruas. E não será diferente com este Senhor dos Exageros sobre rodas.