Como os russos copiaram moto BMW durante a 2ª Guerra para criar ícone soviético: a Ural.
abril 6, 2022Conheça a história da clássica M72 que utilizou como base a BMW R71 em meio a conflito entre Hitler e Stalin. Em 2022, empresa sofre crise por conta da Guerra na Ucrânia.
Funcionário manobra moto Ural em Irbit, na Rússia | Imagem: Ural
As famosas motos Ural têm uma história intimamente ligada a conflitos bélicos. O modelo foi justamente criado durante a 2ª Guerra Mundial, quando a então União Soviética, de Stalin, buscava um modo de melhorar a mobilidade de suas tropas para combater a Alemanha Nazista, de Hitler.
Passados mais de 80 anos desde que as primeiras motos da fabricante foram construídas, a Ural enfrenta agora uma crise ocasionada pelo conflito na Ucrânia. Com a impossibilidade de receber componentes em sua fábrica localizada em Irbit, a cerca de 1.500 km ao leste de Moscou, a empresa declarou que não poderá efetuar entregas de novas motos durante os próximos 6 meses.
Apesar de ser considerado um ícone russo, a marca faz mais sucesso fora do país, inclusive, em mercados como o dos Estados Unidos, o que significa que a invasão da Ucrânia está trazendo grandes prejuízos. Em fevereiro, a Ural utilizou as redes sociais para se manifestar contra o conflito. “Pare a guerra agora”, disse a empresa.
Uma cópia de moto BMW
A partir de 1940, os soviéticos começaram a estudar como seria um modelo ideal para ter mais agilidade em deslocamentos. Preocupados com uma ofensiva nazista por meio das blitzkrieg – uma tipo de invasão rápida e concentrada utilizada pelos alemães -, logo se pensou no uso de uma nova motocicleta, em detrimento das antigas que não tinham o desempenho esperado.
Mas qual seria o modelo ideal? Após discussões do Ministério da Defesa Soviético, a BMW R71 do fim da década de 30 foi escolhida para ser copiada. Para conseguir desenvolver o novo modelo, 5 unidades da BMW R71 foram adquiridas secretamente por intermediário na Suécia. A partir daí, os russos começam um trabalho de desmontagem e criação de moldes para a produção local dos componentes: surgia aí a M72.
Durante a 2ª Guerra Mundial, é estimado que 9.799 unidades da M72 foram entregues às tropas soviéticas.
De onde veio nome Ural?
Por um tempo, o nome Ural não existiu. A princípio, as motocicletas deveriam ser produzidas em Moscou, Leningrado (hoje São Petersburgo) e Karkhov (atual Ucrânia), mas os avanços da Alemanha fizeram as linhas de Leningrado e Karkhov se mudarem para Gorky, enquanto a fábrica da capital se mudou para Irbit, na Sibéria Ocidental.
A escolha da cidade ocorreu pela proximidade aos Montes Urais, rico em recurso. Em 1942, as primeiras unidades de M72 foram produzidas pela fabricante, conhecida com IMZ. Com o passar do tempo, em associação com a cadeia montanhosa dos Urais, a marca enfim recebeu o nome de IMZ-Ural, que continua até os dias de hoje. Nos anos 50, a linha de produção da M72 foi vendida para a China, onde o modelo seguiu em linha até os anos 80.
Em sua maior parte, as M72 foram produzidas com sidecar, o que facilitava o transporte de até 3 soldados e mais carga, se necessário. Além disso, o modelo era considerado uma todo-terreno para a época, sendo robusto para rodar no off-road. Como base, o modelo conta com motor boxer de 2 cilindros, de 745 cc, que rende 40 cavalos de potência. Capaz de chegar a 140 km/h, o M72 não é nada leve com seus 240 kg.
Mudança para fora da Rússia em vista
A partir de 1953, a IMZ-Ural passou a fazer entregas para consumidores comuns, enquanto a produção militar ficou a cargo de uma planta em Kiev (atual Ucrânia); os modelos produzidos lá receberam o nome de Dnepr. Entre diversas idas e vindas, a empresa só deixou de ser estatal em 1998, quando passou totalmente para a iniciativa privada. Apesar de hoje ainda seguir com a produção de suas motos em Irbit, a empresa possui escritório nos Estados Unidos, onde faz sucesso.
Durante a atual crise motivada pela invasão da Rússia à Ucrânia, a Ural chegou a declarar que as dificuldades logísticas atuais ampliam “a necessidade de mover a montagem final para fora da Rússia”.