
Dakar: Moraes tem 48 horas de tensão no deserto
janeiro 6, 2025
Sem auxílio das equipes e disputando 971km cronometrados, pilotos e navegadores foram testados ao limite. Brasileiro Lucas Moraes é o 6º colocado após três dias de prova

Capotamentos, batidas, incêndios, centenas de atolamentos. A 47ª edição do Dakar encerrou uma de suas fases de maior risco nesta segunda-feira (6), com a finalização da segunda etapa, iniciada ontem para a disputa de um trecho de 971km em 48 horas, no deserto Empty Quarter, na Arábia Saudita.
Um dos favoritos já em sua terceira participação no famoso desafio, o brasileiro Lucas Moraes passou por um momento de superação nesse trecho da corrida: dois atolamentos e um pneu furado tiraram suas chances de um bom resultado nos dois dias de prova – no total, o evento contará com 12 dias de disputa até 17 de janeiro.

Mesmo assim, Moraes e o navegador espanhol Armand Monleón terminaram em 12º na especial de 48 horas e ocupam a oitava posição na classificação geral – um resultado considerado satisfatório pelo piloto. Eles disputam a categoria Ultimate, a principal da competição, que ao final desta etapa tem o Toyota Hilux IMT EVO da dupla sul-africana Henk Lategan/Brett Cummings na liderança da classificação geral.
Campeões capotaram
Outra dupla forte que enfrentou contratempos foi Carlos Sainz e Lucas Cruz, atuais campeões do Dakar. O Ford Raptor do duo espanhol capotou no km 327 da primeira parte da especial de 48 horas, no domingo, e precisou ser puxado por um cabo atado a outro carro para ser colocado novamente sobre as quatro rodas.

Com a carenagem em frangalhos – parte dela descartada no local do acidente – e danos na parte mecânica, Sainz e Cruz perderam muito tempo, e foram forçados a abandonar após uma análise dos comissários técnicos da FIA. O experiente Sainz pediu desculpas à equipe pelo acidente: “Depois disso, acho que minhas chances de vencer este Dakar desapareceram”, disse o espanhol, tetracampeão da prova.
Destaque na primeira especial, disputada no sábado, quando terminou em quinto na Ultimate, a espanhola Cristina Gutierrez e seu navegador e conterrâneo Pablo Moreno socorreram o Dacia SandRider do multicampeão de rally de velocidade Sebastién Loeb, que tem navegação do belga Fabian Lurquin.

Mas nesta segunda-feira foi a vez da única piloto com potencial de disputar vitórias no Dakar 2025 ter problemas mecânicos. Seu Dacia SandRider não completou a etapa – o que tira Cristina da disputa pela vitória desta edição da prova, embora ela possa continuar participando da competição.

Depois de sofrer problemas com o ventilador do motor ontem, que o fizeram perder 40 minutos, o ataque de Sébastien Loeb hoje permitiu que ele dirigisse seu Dacia a 13 minutos do vencedor do dia, uma recuperação que lhe permitiu limitar os danos.
“Foi uma etapa muito longa, quase mil quilômetros. Tivemos um grande problema com o aquecimento do motor por causa de problemas no ventilador. Perdemos cerca de 40 minutos na primeira parte da etapa. Mas desde então, foi consertado e forçamos ao máximo. Ganhamos muito tempo de volta, então terminamos a etapa a 14 minutos do líder, então não é tão ruim. Estava parecendo muito pior ontem”.

Uma das grandes estrelas do Dakar, Loeb parou por problemas no km 401 durante o domingo e agora ocupa o sexto lugar na classificação geral.
”Saldo positivo”
“Foi uma especial muito difícil, mesmo. Mas no final o saldo até que foi positivo para a gente. No primeiro dia, que foi a primeira parte das 48 horas, largamos em sétimo, de acordo com a estratégia da equipe. Conseguiu passar uns seis carros até que rapidamente, nos primeiros 250-280km. E por isso nós tivemos que abrir a prova, ou seja, a ser os primeiros a largar nas especiais”.
“Andamos assim por mais de 100km. O problema é que quando você abre a prova não tem a trilha formada pelas marcas de pneus de outros carros e fica sem nenhuma referência no meio das dunas, o que é um risco muito, muito alto mesmo. Por isso, pra não se acidentar, você tem que diminuir muito a sua velocidade”, detalhou Lucas Moraes.

“Eu ainda cometi alguns erros, por que ainda estou aprendendo a andar no deserto, que é uma técnica muito específica, que não é possível aprender andando só no Brasil. Mas nesta segunda-feira a gente descontou uns 6 a 8 minutos dos ponteiros e conseguimos diminuir a diferença”.
“Então, acho que nos saímos bem no cômputo geral. Estamos apenas no começo do Dakar e já parece que faz uma semana! Mas ainda tem muita coisa pela frente. É importante manter o foco e minimizar o cansaço, porque a parte mental é muito importante no Dakar”, completou.
O Brasil tem mais representantes na Ultimate. Estreante na categoria, a dupla Marcos Moraes e Maykel Justo (Toyota Overdrive) ocupa a 28ª colocação depois das etapas realizadas. “Estes dois últimos dias foram de muitas dunas cortadas, com um lado em subida e o outro em queda brusca, como se tivessem tirado metade da duna. Foi difícil e de muito aprendizado pra gente. Mas “sobrevivemos” e continuamos no jogo”, disse o piloto.
”O Dakar é assim mesmo”

Pela sexta vez o Rally Dakar é disputado na Arábia Saudita.



Já Marcelo Gastaldi, que tem o francês Adrien Metge como navegador em seu Century CR7, teve um problema mecânico e agora ocupa a 39ª posição na classificação geral. O quinto representante do Brasil na prova é o navegador Cadu Sachs, que compete na categoria Challenger (protótipos leves) a bordo de um Taurus T3 Max ao lado do piloto português Gonçalo Guerreiro. No domingo, o jovem duo passou por um susto ao atolar após saltar uma duna.
“Infelizmente ontem (domingo) tivemos esse momento difícil. Mas conseguimos consertar o carro. Perdemos um pouco de tempo, mas o Dakar é assim mesmo, faz parte”, disse Gonçalo, que é vice-líder da Challenger ao lado do brasileiro. O primeiro lugar na classificação geral da categoria é da dupla argentina Nicolas Cavigliasso e Valentina Pertegarini, também com um Taurus T3 Max. Neste momento, os demais líderes no Dakar são o australiano Daniel Sanders, da KTM, na categoria Motos, e o trio checo Martin Macik/Frantisek Tomasek/David Svanda, com um MM Powerstar, na categoria Caminhões.
Tempestades alteram prova

A organização do Dakar anunciou que a terceira etapa, a ser disputada nesta terça-feira, teve seu roteiro alterado em função da previsão de fortes tempestades no deserto Empty Quarter. O comunicado distribuído no final de hoje e publicado no site oficial diz o seguinte:
“A região de Al Henakiyah está sujeita a tempestades severas, que devem continuar por algum tempo. Como resultado,… o final da especial será localizada após o quilômetro 327 da rota original (que antes tinha 496km), removendo 169km (da etapa) nas zonas afetadas pela chuva”. O local de largada permanece o mesmo, em Bishá. Confira mais informações:


CLASSIFICAÇÃO GERAL
Após duas etapas / Seis primeiros + brasileiros
1) Henk Lategan (África do Sul)/Brett Cummings (África do Sul), Toyota GR DKR Hilux, 15h40min30s
2) Yazeed Al Rajhi (Arábia Saudita)/Timo Gottschalk (Alemanha), Toyota Overdrive, a 4min45
3) Nasser Al-Attiyah (Qatar)/Edouard Boulanger (França), Dacia SandRider, a 6min00s
4) Toby Price (Austrália)/Sam Sunderland (Inglaterra), Toyota Overdrive, a 11min44s
5) Mattias Ekström (Suécia)/Emil Bergvist (Suécia), Ford Raptor, a 13min16s
6) Sebastién Loeb (França)/Fabian Lurquin (Bélgica), a 18min56s
8) Lucas Moraes (Brasil)/Armand Monleón (Espanha), Toyota GR DKR Hilux, a 20min57s
28) Marcos Moraes (Brasil)/Maykel Justo (Brasil), Toyota Overdrive, a 2h35min47s
38) Marcelo Gastaldi (Brasil)/Adrien Metge (França), Century, a 3h28min12s












Por: Paula Carvalho
Fonte: Motorsport