Gestão da pandemia reduz expectativas de crescimento em 2021.

Gestão da pandemia reduz expectativas de crescimento em 2021.

maio 3, 2021 Off Por motoractionbrasil

Resultados do mercado de veículos sugerem arrefecimento das vendas e futuro ameaçado.

A inepta gestão governamental no enfrentamento à pandemia de coronavírus no País, que caminha para muito em breve superar a trágica marca de 400 mil vidas perdidas (e contando), está aprofundando a crise econômica para um ponto de difícil recuperação, ameaçando seriamente as esperanças de crescimento, fazendo até parecer otimistas as projeções (antes consideradas conservadoras) sobre o mercado de veículos este ano.

Até o momento, tanto a Anfavea quanto a Fenabrave, associações que reúnem fabricantes e seus distribuidores franqueados, respectivamente, projetavam um crescimento de 15% sobre 2020, alcançando cerca de 2,37 milhões de unidades vendidas, ao somar automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões.

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Para chegar lá será necessário avançar mais rápido do que no ritmo atual – e neste momento isso parece improvável. O primeiro trimestre fechou com 528 mil emplacamentos, queda de 5,4% nas vendas em comparação com o mesmo período de 2020. Como efeito direto de medidas de restrição de circulação e abertura de estabelecimentos comerciais para conter o avanço da pandemia, a desaceleração continuou na primeira quinzena de abril.

Nos 10 primeiros dias úteis de março a média diária de emplacamentos de veículos leves foi de 8.097 e no mesmo período deste mês o número baixou 7,2%, para 7.515/dia. O total de automóveis e comerciais leves na primeira metade de abril foi de 75.154, contra 80.965 nos mesmo 15 dias de março.

Por enquanto, o resultado está dentro das expectativas conservadoras da Anfavea, mas preocupa porque sugere tendência de arrefecimento da confiança do consumidor diante do cenário crítico, combinado com recuo do poder aquisitivo para comprar carros cada vez mais caros – nos últimos 12 meses a alta média de preços dos automóveis mais vendidos passa dos 18%, segundo levantamento da Kelley Blue Book (KBB). Esses aumentos são potencializados pela elevação dos juros, que jogam para cima o custo dos financiamentos.

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A situação coloca um ponto de interrogação no horizonte da evolução do mercado: até quando o consumidor vai conseguir pagar por esses aumentos? Na verdade, a maioria já não consegue há tempos e o mercado vem sendo sustentado pela elite econômica do País que forma filas de espera para comprar veículos acima de R$ 100 mil e muito além isso. O problema é saber quanto fôlego tem essa pequena camada privilegiada da população brasileira para sustentar a indústria que precisa preencher sua enorme capacidade ociosa – as fábricas brasileiras poderiam produzir mais de 4,5 milhões de veículos/ano e hoje fazem pouco menos da metade.

Para piorar a situação, mesmo se a demanda crescer ou continuar como está, hoje a indústria não pode atendê-la, porque além alta generalizada de preços também há falta de insumos para produzir, como semicondutores eletrônicos, borracha, plásticos e aço, só para citar os principais. Por esse motivo algumas linhas de produção precisaram ser paralisadas ou reduzir o ritmo – o caso mais grave até agora é o da planta da GM em Gravataí (RS) que está parada desde o início de março e ficará assim até junho. O problema, muitos já admitem, tende a se arrastar até o fim do ano, comprometendo sensivelmente a recuperação do setor.

“ESTAGFLAÇÃO” É AMEAÇA

Após o momento de equivocada euforia com o crescimento de vendas no último trimestre de 2020, a leniência (e irresponsabilidade) de governos e pessoas em lidar com a Covid-19 cobra seu preço, para além das mortes, projetando uma vida pior para todos, com alta da inflação e baixa da economia, fenômeno conhecido como “estagflação”, a nefasta combinação de estagnação econômica com elevação de preços.

O Brasil é a única das dez maiores economias do mundo que no primeiro trimestre registra desaceleração econômica, de acordo com monitoramento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado este mês. A média das expectativas de crescimento do PIB brasileiro este ano já era bem modesta, de 3,5% após o tombo de 4,1% em 2020, mas diante do cenário atual essa projeção já caiu para avanço de 3,04% em 2021 e 2,34% em 2022, conforme o Relatório Focus de 16 de abril, levantamento semanal do Banco Central com a média das expectativas de mercado sobre os principais indicadores econômicos.